O Sábado segundo a Torá
20:31
O
SÁBADO E A TORÁ
Digitado
por Julio Celestino
Este esboço
contém todas as notas de rodapé referente ao shabbath da obra: “Torá – A lei de Moisés” da editora Sêfer. Para
quem tem curiosidade de conhecer um pouco da visão judaica a respeito do
sábado.
Gênesis (Bereshit) 2.1-3: E acabaram (de criar-se) os céus e a terra, e todo seu
exército. E terminou Deus, no dia sétimo, a obra que fez, e cessou no dia
sétimo toda a obra que fez. E abençoou Deus ao dia sétimo, e santificou-o,
porque nele cessou toda sua obra, que criou Deus para fazer.
2. E cessou – Antes de formar, no sexto dia, o homem, o ser mais
importante da Criação, Deus preparou-lhe o máximo de conforto e felicidade. O
sol, a lua e as estrelas para iluminar o seu caminho; as flores para gozar de seus
perfumes; os pássaros para entoar-lhe os seus cânticos harmoniosos, e todos os
bens da terra para desfrutar deles segundo o seu desejo. Faltava dar-lhe o
exemplo do Shabat (sábado), o dia em
que deveria dedicar-se ao repouso do corpo e da alma, ao regozijo e à elevação
do seu espírito. “E Deus descansou, abençoou e santificou o sétimo dia”.
(Pág. 4)
Êxodo (Shemot) 16.22-29: E foi no sexto
dia, recolheram pão em dobro, dois ômer para cada um, e vieram todos os
príncipes da congregação e anunciaram-no a Moisés. E disse-lhes: Isto é o que
falou o Eterno: “Amanhã é repouso, sábado [Shabat] santo para o Eterno; o que
haveis de assar asse-o, e o que haveis de cozinhar, cozinhai-o, e tudo o que
sobrar, deixai de lado para vós, guardando até a manhã”. E deixaram-no até a
manhã como mandou Moisés, e não cheirou mal, nem verme houve nele. E disse
Moisés: Comei-o hoje, que sábado é hoje para o Eterno; hoje não o achareis no
campo. Seis dias o colhereis, e no sétimo, sábado, não haverá. E foi no dia de
sábado, saíram alguns do povo para colher e não acharam. E disse o Eterno a
Moisés: “Até quando recusais guardar Meus mandamentos e minhas leis? Vede que o
Eterno vos deu o sábado, portanto ele vos dá no sexto dia pão para dois dias.
Ficai cada qual em seu lugar, não saia ninguém de seu lugar no sétimo dia.”
23. sábado santo para o Eterno – O Shabat
(sábado) é composto de dois aspectos essenciais: Zachor ve Shamor (“Lembra-te e Guarda”). Se, por um lado, somos
ordenados a cessar totalmente nossas atividades e trabalhos como forma de
atingir um determinado objetivo que não se resume ao mero descanso físico, e
sim uma elevação espiritual, - por outro lado, somos convocados a deleitar-nos
e a usufruir do grande prazer proporcionado por este dia. São estes dois
aspectos que conduzem a pessoa à dimensão de santidade do “sábado santo para o
Eterno”.
O Shabat é um dia
em que se renuncia ao domínio sobre nosso mundo particular. É um dia para se
pensar e crescer, para falar com as pessoas porque elas são pessoas, de cantar
com a família à mesa, de orar junto com os vizinhos, de elevar o espírito e os
ideais, de ficar mais íntimo da verdade e da beleza, de concentrar-se nas
questões maiores da vida e aproximar-se de Deus. (E)
O que haveis de assar,
assai-o – O processo
de santificação do Shabat começa com
elementos absolutamente materiais, como a comida, que se torna um objeto a
serviço de Deus. Assim, o dia consagrado a Deus envolve dentro de si a união
dos aspectos físicos e materiais à atmosfera de santidade que caracteriza e
distingue o Shabat dos demais dias da
semana. (E)
(Pág. 203)
26. Seis dias o
colhereis – Podemos
interpretar este versículo metaforicamente: os seis dias de atividade da semana
representam a vida do ser humano, que tem alguns e limitados anos para vivê-la.
Antes de encerrá-la – no sexto dia, o último dia útil da semana – ele deve
preparar algumas provisões para o sábado, o mundo vindouro, que transcende a
vida material. A “porção dupla” representa as boas ações que o homem pratica em
sua vida, e estas não poderá colher no sétimo dia, quando a vida material já
cessou. De acordo com o judaísmo, a vida espiritual que sucederá nossa vida
material, denominada Olam Habá,
depende necessariamente do nosso comportamento e das ações que praticamos nesta
vida.
29. Pão para dois dias
– No meio do calor
infernal do deserto, e de toda classe de privações, Moisés disse ao povo: “Vede
que o Eterno vos deu o sábado; por isso vos dá Ele na sexta-feira o pão para
dois dias; fique cada um onde está; não saia ninguém do seu lugar no sétimo
dia; e descansou o povo no sétimo dia” (vers. 29-30). Apesar do sofrimento
diário de fome e sede no deserto, Deus não queria que o homem se preocupasse no
sábado com as suas necessidades materiais. Como, então, no meio das condições
de vida fácil em que vivemos, nos permitimos profanar a santidade deste dia
sagrado para correr atrás deste Maná terrenal que alguns possuem em abundância
e que outros poderiam, com um pouco de esforço, se prover no sexto dia de uma
ração dobrada?
(Pág. 204)
Êxodo 21.1-2 – “E estas são as leis que
porás diante deles: Quando comprares um escravo hebreu, ele servirá seis anos,
e no sétimo sairá livre, de graça...”.
1. E estas são as leis
– Após os imortais
dez mandamentos, leis fundamentais ditadas por Deus no monte Sinai, Moisés, por
ordem do Eterno, ocupou-se de redigir o Código Legislativo. Podemos dizer com
glória que este código serviu de base às legislações de todos os povos
civilizados do mundo. Podem modificar estas leis e podem transforma-las de
acordo com o espírito e circunstancias, porém os princípios jamais variam, pois
são eternos como a luz de onde emanam.
Hoje, muitas destas leis não são mais aplicadas, como a lei da escravidão, o
ano sabático (Shemitá), o jubileu, os
sacrifícios (Corbonot) etc.; umas
pelo fato de que a maioria dos judeus vivem fora de Israel, outras por causa da
destruição do Templo de Jerusalém (Bet-Hamicdash).
(Pág. 218)
Êxodo 31.14-15 – E guardareis o sábado [shabat],
que santidade é ele para vós; aqueles que o profanarem serão mortos, porque
todo aquele que fizer nele trabalho, a sua alma será banida do meio de seu
povo. Seis dias se trabalhará, e no sétimo dia será sábado de descanso,
santificado para o Eterno; todo aquele que fizer trabalho no dia de sábado será
morto.
14. E guardareis o
sábado – A
santificação do dia de Shabat
(sábado) é uma lei propriamente do povo israelita, pela qual ele leva uma
responsabilidade particular, “pois este é um sinal entre Mim e vós, por vossas
gerações” (vers. 13); uma lei de confiança e de amor que Deus nos concedeu com
a Sua graça íntima. Santificando o sábado, a sétima parte de sua vida semanal,
o israelita proclama Deus como Criador e reconhece a Sua obra. A profanação
pública e premeditada do sábado merece a pena de morte (vers. 14), pois esta
profanação é, de certo modo, a negação de Deus como criador do mundo.
A santidade do sábado foi reconhecida por chefes religiosos
de outras crenças. Martinho Lutero escreve: “A natureza exige que as
pessoas e os animais descansem um dia por semana. Porém aquele que deseja fazer
deste dia de repouso uma lei positiva, uma obra de Deus, deve adotar o sábado e
não o domingo, pois o sábado é que foi determinado aos israelitas, e não o
domingo” (Luther, Tomo 3, 643).
15. Seis dias se
trabalhará - Em vez
de começar logo com as instruções relativas à construção do Tabernáculo, Moisés
proclama: “Seis dias se trabalhará, e no sétimo dia será sábado de descanso,
santificado para o Eterno.” Deus disse a Moisés: “Ensina publicamente na
congregação as leis sobre como guardar rigorosamente o dia de Shabat, para que isto se torne hábito
para as futuras gerações. Reúnam-se nas suas comunidades, todos os sábados, a
fim de aprender e ensinar os preceitos da Torá”. Mas se o fim transcendental do
Tabernáculo é criar um centro espiritual para unir o judeu ao seu Criador, à
Torá e À sua fé, por que isto só poderia ser feito nos deias de Shabat e dias festivos? Porque as
preocupações materiais cotidianas impedem-no de pensar em coisas espirituais. E
para que o povo não pense que por ter construído um Mishcán, um santuário, está dispensado de observar as outras
prescrições religiosas, veio o aviso público de que não existe coisa mais
importante e mais sagrada, capaz de testemunhar a íntima relação entre Deus e o
povo de Israel, do que o dia de Shabat.
O Shabat não é um
simples dia de descanso, mas sim uma interrupção da banalidade, da futilidade
cotidiana; o Shabat libera o judeu da
mesquinhez pessoal, elevando-o às alturas sublimes desta vida. Os Mestres
ensinam que o dia de descanso sabático foi estabelecido por Moisés ainda
durante os anos da escravidão judaica no Egito, argumentando que, quando Moisés
notou que os filhos de Israel não quiseram ouvi-lo “por causa da angústia do
espírito e pela dura servidão”, compreendeu que essa liturgia devia ser
atribuída também ao cansaço físico, e introduziu o dia de Shabat. A motivação formal para pedir do rei um dia de descanso foi
“para que os escravos judeus possam render mais trabalho”, mas no seu íntimo,
ele quis proporcionar aos seus infelizes e torturados irmãos um dia por semana
de descanso, para poder convoca-los, congrega-los, para lhes expor a ideia da
redenção que não tardaria, para despertar neles o ânimo do movimento
libertador. Vê-se, pois, que o Shabat
foi um dos mais importantes fatores a contribuir para a redenção do povo judeu.
(MD)
(Pág. 259)
Êxodo 34.21 – Seis dias trabalharás e
no sétimo dia descansarás; mesmo no tempo de arar e ceifar descansarás.
21. no sétimo dia
descansarás- O Shabat é o sinal do pacto entre Deus e o
povo de Israel. Por isso tem tanto valor para a existência judaica, em todas as
gerações. Não é à toa que seus opressores, quando pretendiam desviar o povo
judeu da Torá para convertê-los a outros credos e destruí-lo como nação, sempre
concentraram suas medidas cruéis contra o respeito ao sábado, pois sabiam que,
eliminando-o, estariam eliminando toda a Torá, desligando o povo de sua fonte
de vida e retirando-lhe a própria alma. (E)
(Pág. 268)
Êxodo 35.1-3 – E reuniu Moisés toda a
congregação dos filhos de Israel e disse-lhes: Estas são as coisas que o eterno
ordenou que se fizessem. “Seis dias se fará trabalho, e no sétimo dia haverá
para vós santidade, sábado de repouso ao Eterno; todo aquele que nele fizer
trabalho será morto. Não acenderei fogo em todas as vossas habitações no dia de
sábado.”
2. Sábado de repouso - Moisés reuniu a congregação dos
filhos de Israel e começou a ensinar-lhes as leis do sábado, pois parece
ter-lhe dito Deus: “Adote este costume de fazer reunir o povo, afim de
ensinar-lhes as regras de sua conduta e inspirar-lhe o amor pela Torá. Estas
reuniões servirão de modelo para as futuras gerações. Assim, a luz não se
apagará em Israel e Meu nome será glorificado de geração em geração” (Midrash Ialcut 408).
Sábado de repouso ao
Eterno – Ao começar
a construção do Tabernáculo, a Torá nos faz recordar a observância do Shabat para dizer-nos que, apesar da
construção do santuário ser um preceito Divino, não se permite por isso
profanar a santidade do Shabat.
3. Não acendereis fogo
– Esse preceito
pertence à categoria das leis chamadas Chukim,
sobre as quais a Torá não explica a sua razão.
(Pág. 271)
Levítico (Vayicrá) 23.3 - Seis dias se
trabalhará, e no sétimo dia será sábado solene, santa convocação, nenhum
trabalho fareis; é sábado para o Eterno, em todas as vossas moradas.
3. No sétimo dia será
sábado solene – O Shabat é a coluna vertebral do
calendário judaico, tendo sido estabelecido desde a Criação como uma data fixa
e intransferível. As demais festas eram decretadas pelo San’hedrin, a suprema corte de Jerusalém. A consagração do Shabat é um afastamento momentâneo da
dimensão espacial para vivenciar uma outra dimensão: o tempo, tão esquecido e
subordinado à pressão material que aflige toda a Humanidade. (E)
(Pág. 360)
Levítico 25.4 – E no sétimo ano, sábado
de descanso será para a terra, sábado em nome do Eterno teu campo não semearás
e tua vinha não podarás.
4. E no sétimo ano,
sábado de descanso será - Todo sétimo ano, desde o ano da
criação do mundo, é um ano sabático (Sheimitá),
durante o qual a terra deveria estar em repouso. Os produtos que cresciam espontaneamente
no campo eram socializados e pertenciam a todos: ao servo, ao estrangeiro e
mesmo ao gado e aos animais selvagens da terra.
A palavra Shemitá
expressa a ação de largar e soltar. No ano da Shemitá, o credor renunciava cobrar o que lhe deviam (Deuteronômio
9:2). Além disso, todos eram obrigados a emprestar ao necessitado, dinheiro e
alimentos sem juros (Levítico 25:37); assim se mantinha o equilíbrio da
fortuna, os ricos cobrindo o déficit dos pobres.
(Pág. 367)
Deuteronômio (Devarim) 5.12-15 – Guardarás
o dia do Shabat [sábado] para
santifica-lo, como te ordenou o Eterno, teu Deus. Seis dias trabalharás e farás
toda tua obra, e o sétimo dia é o sábado do Eterno, teu Deus; Não farás nenhuma
obra – Tu, teu filho, tua filha, teu servo, tua serva, teu boi, teu jumento,
teu animal, teu prosélito que estiver em tuas cidades -, para que descansem teu
servo e tua serva bem como tu. E lembrarás que servo foste na terra do Egito, e
que de lá te tirou o Eterno, teu Deus, com mão forte e com braço estendido;
portanto te ordenou o Eterno, teu Deus, para fazer o dia de sábado.
12. Guardarás o dia de
sábado – Nesta Parashá, Moisés menciona os dez
mandamentos segundo foram proclamados pelo Eterno no monte Sinai. Entretanto,
no quarto mandamento, em lugar de “Zachor
et Iom Hashbat Lecadesho” (Estejais lembrado do dia de sábado para
santifica-lo.), foi dito aqui “Shamor et
Iom Hashabat Lecadesho” (Guardarás o dia de sábado para santifica-lo.) O
Tamuld escreve que Deus tinha pronunciado estas duas palavras Zachore Shamor simultaneamente, o que é
um milagre longe de ser compreendido pelo gênero humano. Fazendo referência a
este fato, o poeta Shelomo Halevi el
Kabets escreveu em sua famosa poesia Lecha
Dodi, que cantamos no ritual de sexta-feira à noite: Shamor Vezachor Bedibur Echad, Hishmiánu El Hameiuchad (“Guardar e
lembrar (o sábado) nos fez ouvir o Deus único em uma só palavra”).
Os preceitos negativos do Decálogo devem ser traduzidos
apenas em futuro simples: “Não matarás”, “não roubarás” e assim por diante. Não
se trata de uma lei, uma imposição, um “imperativo” que o homem deve cumprir,
mas uma educação integral na qual o preceito se converte em parte natural de
sua personalidade, que o homem observa instintivamente. A nossa fé exige crer
que estes sublimes mandamentos foram ditados pelo Eterno. Na realidade, se eles
não tivessem descido do céu, não teriam existido desde mais de três mil anos,
até hoje, contribuindo para a moralização, progresso e enobrecimento de quase
toda a família humana.
Fonte: TORÁ – A LEI DE MOISÉS – Meir Matzliah Melamed – Editora Sêfer, 2001.
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