Depressão

16:43

Foto de Gabriela Palai


Texto áureo: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.” – Filipenses 4.6-7, ACF.

 

Depressão e Suicídio: entender, superar e ajudar. Este é o tema da breve palestra que foi ministrada aos jovens e adolescentes da igreja Assembleia de Deus de Maruípe no dia 18 de setembro de 2020. Grande parte do conteúdo foi retirado do livro de Zack Eswine intitulado “A Depressão de Spurgeon”, lançado em 2015 pela editora Fiel.

 

O QUE É DEPRESSÃO?

 

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde [OPAS] a depressão é “um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em atividades que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar atividades diárias [...]”. Conforme a OPAS, as pessoas com depressão podem apresentar vários sintomas como “perda de energia; mudanças no apetite; aumento ou redução do sono; ansiedade; perda de concentração; indecisão; inquietude; sensação de que não valem nada, culpa ou desesperança; e pensamentos de suicídio ou de causar danos a si mesmas”. É oportuno destacar que a organização citada afirma que a depressão pode afetar qualquer pessoa, e isto não se trata de um sinal de fraqueza ou popularmente intitulado de “frescura”.

A depressão também pode ser ilustrada de forma simplista com as placas de “depressão na pista”. Essas placas ilustram bem como funciona a depressão na vida de alguém, pois, quando estamos dirigindo um veículo e nos deparamos com o alerta de “depressão na pista”, sabemos que haverá um desnível para baixo na estrada. Assim o é na vida de quem sofre de depressão, em determinado momento, há um desnível para baixo.





Um dado interessante é que a depressão só foi reconhecida como doença em meados do século XIX. De acordo com uma matéria publicada no Jornal da USP, somente em 1952 foi lançado o primeiro Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria.  Porém, este mal assola o ser humano há muito mais tempo do que possamos imaginar.

 

QUAIS SÃO AS CAUSAS DA DEPRESSÃO?

 

De acordo com o livro de Zack Eswine, a depressão pode surgir na vida de uma pessoa através de três fatores: biológico, circunstancial e espiritual.

O fator biológico – conforme o site do Ministério da Saúde as causas da depressão podem ser eventos vitais, genéticas e bioquímicas.  O pastor Charles Spurgeon também reconhecia que a depressão, em alguns casos, é causada pelo fator biológico, afirmando que “algumas pessoas são constitucionalmente tristes. Às vezes somos marcados pela melancolia desde o momento de nosso nascimento”.  Por este motivo é necessário que nós, cristãos, tenhamos a consciência de que nem tudo na vida se trata de algo espiritual, pode ser doença. A OPAS afirma que a depressão é um transtorno tratável por meio de psicoterapia, medicamentos antidepressivos ou a combinação de ambos.

O fator circunstancial – como foi citado acima, o Ministério da Saúde afirma que a depressão pode ser causada por eventos vitais, ou como preferimos abordar nesta palestra, causas circunstanciais. O fator circunstancial indica que uma pessoa acometida de depressão não chega a esta situação devido a sua natureza ou temperamento melancólico, eventos como a perda de um familiar, demissão, problemas financeiros, traição de um cônjuge, problemas familiares, descontentamento com o próprio corpo, sonhos frustrados dentre várias outras circunstâncias podem causar depressão. Este mal surge até mesmo após um momento lindo como o nascimento de uma criança, conhecida como depressão pós-parto. Sobre isto, Eswine diz que o fator circunstancial nos ensina que: 1) a fé na terra não é nem escapismo, nem paraíso, 2) não equiparamos benção espirituais com comodidade circunstancial e 3) nós que não sofremos depressão circunstancial devemos aprender o cuidado pastoral para com aqueles que sofrem. 

O fator espiritual – Eswine descreve que “essa forma de depressão aflige pessoas, a qualquer momento, com terrores conscientes e irreversíveis acerca do desagrado de Deus. Ou ainda, aqueles que, sofrendo esse tipo de depressão, usam atos extremos de devoção religiosa a ponto de machucarem a si próprio e a outros”. Para a pessoa com este tipo de depressão, Deus tem amor, paz e graça para os outros, menos para ela. Também acredita que devido a algum pecado ou qualquer outro motivo, Deus não a ama mais, está desamparada, esquecida, etc. Segundo Eswine, alguns pregadores acabam piorando a situação do deprimido, presumindo que toda depressão se trata de um pecado. Em alguns casos, o pregador peca por associar a prosperidade financeira e a saúde com sua fidelidade a Jesus. Por vezes, um servo ou uma serva do Senhor que passa por problemas circunstanciais, se vê de frente a uma mensagem que afirma que se formos fiéis a Jesus, seremos abundantemente ricos e saudáveis. Por essas e outras, o servo de Jesus que passa por problemas na área da saúde ou financeiro, acaba acreditando que Deus o abandonou em seus infortúnios, e isso não é verdade! Sobre isto, escreveu o Pregador de Eclesiastes: “Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento”.  O autor de Eclesiastes estava falando sobre o que chamamos de “graça comum”, ou seja, a graça que Deus disponibiliza a todos! De forma simples, o Pregador estava dizendo que o mesmo sol que brilha sobre a igreja, brilha sobre um presídio; e a mesma chuva que cai sobre uma casa de família também cai sobre um bar. É preciso ser cauteloso com o uso da língua, até mesmo na hora de testemunhar as bençãos de Deus em nossas vidas. Dentro do fator espiritual, também existe a possibilidade de uma influência maligna, e segundo Eswine, “quando nos deparamos com este antigo inimigo, o diabo, resta apenas uma coisa que podemos e devemos fazer: lutar!”.  Usando a armadura espiritual descrita em Efésio capítulo 6 podemos vencer! Eswine diz que “nosso jeito de lutar é nos escondermos atrás de Jesus que luta por nós. Nossa esperança não é a ausência de nosso pesar, ou sofrimento, ou dúvida, ou lamento, mas a presença de Jesus”.

 

COMPORTAMENTOS QUE ATRAPALHAM

 

Existem alguns comportamentos que, mesmo com a melhor das intenções, podem piorar a situação de quem sofre com depressão. Frases como “pare de bobagem, a vida é bela, sacode a poeira e recupera-se!” e “para de frescura!”, são como empurrões que lançam o sofredor ainda mais fundo no mar da angústia.  Textos bíblicos dispensados de qualquer maneira também não servem de ajuda para o aflito, às vezes pode até piorar a situação, fazendo-o acreditar que se não está sentindo nada lendo trechos da Palavra, Deus o abandonou. O desprezo e a indiferença também são comportamentos que atrapalham, geralmente, amigos e familiares acabam desprezando a dor do deprimido dizendo coisas como: “seu problema nem é tão grave assim, para mim você está sofrendo à toa”, ou pensando: “daqui a pouco passa, para que vou me preocupar?”. É preciso termos cautela e amor para com os aflitos e evitar tais julgamentos para não sermos as mãos que jogam gasolina em cima do fogo da melancolia tentando apagá-lo.

 

SEGUINDO O EXEMPLO DE DEUS

 

O primeiro livro dos Reis, capítulo 19, nos mostra uma boa forma de tratar alguém que sofre neste pântano sombrio. O texto descreve o momento em que o profeta Elias sofre uma profunda depressão. Mesmo Deus tendo realizado diversos milagres e maravilhas na vida deste homem, ao ser ameaçado de morte por Jezabel, esposa do rei, ele fugiu temendo pela sua vida e clamou a Deus pela sua morte quando suas forças acabaram, mas, o Senhor não o abandonou.

Finalizo este esboço mostrando a você, caro leitor, como é importante aprendermos com Deus a maneira correta de lidar com pessoas depressivas:


· Elias fugiu para o deserto, se abrigou debaixo de um zimbro, pediu a morte e adormeceu. Isso nos mostra, em primeiro lugar, que o aflito precisa de descanso.


· Em seguida, um anjo o alimentou com pão e água e ele dormiu de novo. Este gesto nos ensina que nosso tratamento para com os angustiados demanda tempo, amor e cuidado. É preciso ter paciência para alimentá-los com amor.


· Após descansar mais um pouco, o anjo repetiu todo o gesto de amor, e isso renovou as forças do profeta para continuar na caminhada.


Amor, paciência e cuidado são palavras-chave no cuidado de Deus para com Elias, e é assim que devemos tratar os que sofrem com a depressão. Que Deus nos abençoe e nos dê estratégias para ajudar a quem precisa. E se você que está lendo sofre deste mal, procure ajuda médica, converse com um amigo de confiança e acima de tudo, confie em Deus. Você não está sozinho(a) nessa!

 

 

 

Julio Celestino

16 de setembro de 2020, Vitória, Espírito Santo.

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